domingo, 9 de dezembro de 2012

O que aconteceu com ela?

Oi ornitorrincos (:

Eu sei que eu acabei de falar oi para vocês, o que é realmente muito suspeito, observando a minha frequência de posts nesse ano. Muitas coisas fizeram isso acontecer e acho que o grande nome por trás de tudo isso seja UNICAMP. Eu já falei para vocês no post anterior que esse último mês foi extremamente corrido, eu tive literalmente um vestibular por final de semana e isso ocupou meu tempo inteiramente. As primeiras fases terminaram há quase um mês atrás, então eu finalmente achei que podia tirar um pouco isso da cabeça, não que as segundas fases fossem mais preocupantes ainda. Em um domingo eu fiz a minha última prova e na quarta feira eu estava no meu médico em São Paulo para resolver quando eu iria fazer as minhas próximas plásticas. Pelas minhas contas, eu estava chegando ao fim. Uma cirurgia grande para refazer a aba do nariz - que eu perdi para o câncer e alguns procedimentos para endireitar os dentes. Eu até tinha na cabeça uma data que não me atrapalharia em nada, só que nada é como a gente quer, não é mesmo?

Essa é a minha época preferida do ano e eu tinha tantas, mas tantas coisas para fazer.. Nas minhas contas, eu teria que fazer a cirurgia só depois da segunda fase da Unicamp, que é janeiro. Até lá eu teria o Reciclafé, festas de amigos meus, a segunda fase da Unesp, um musical para apresentar, e o meu natal e meu ano novo... Mas quando o doutor começou a explicar como seria a cirurgia, eu vi que nada seria do jeito que eu planejei. Ele me disse que teria que colocar uma espécie de "bolsa" dentro da minha testa, que serviria como um extensor para aumentar a pele da minha testa e deixa-la mais fina. Depois de um tempo ele vai remover e a minha pele terá bem mais elasticidade, então ele vai transferir pele da minha testa para reconstruir e endireitar o meu nariz. E desde duas semanas atrás esse inchaço me impede de fazer tudo o que eu queria, e ele não vai sumir até o dia 7 de janeiro.

O doutor vêm colocando uma agulha na minha cabeça uma vez por semana e enchendo o expansor com soro fisiológico e eu posso dizer com todas as letras que eu nunca senti tanta dor na minha vida, nem quando eu ainda fazia quimioterapia. Eu não sei com o que comparar. Mas esse não é o ponto que eu quero chegar. Vou explicar o nome do post, continuem lendo, se vocês quiserem.
Essa cirurgia me pegou de surpresa, essa é a verdade. Eu sei que eu precisei faze-la e não me arrependo. Não me arrependo também de estar escrevendo isso. Vocês e todos os meus amigos conhecem uma menina forte que gostar de escutar e ajudar as pessoas a resolverem seus problemas. E eu não estou dizendo que não confio nos meus amigos, mas eu não me sinto a vontade com absolutamente ninguém para falar o que eu estou prestes a escrever aqui.

Isso vem me remoendo desde muito tempo, pra ser mais precisa, desde o fim da quimioterapia. O tratamento me afastou da minha vida normal por um ano, e levou a doença embora com ele. Mas deixou pra trás uma pessoa que detesta o que vê no espelho, uma pessoa que se atormenta todos os dias com o que aconteceu e continua acontecendo. A cirurgia que me tirou o câncer tirou ossos, músculos e coisas que eu não sei nomear do meu rosto. Me tirou a vaidade, me deu frieza em retorno.

Eu sei que parece estupidez e provavelmente é, mas nunca consigo me sentir aceita em lugar algum, eu nunca me senti parte de lugar algum. E eu nunca confiei em ninguém inteiramente, nunca consegui falar sobre essas sombras que me fazem chorar pelo menos uma noite por semana antes de dormir.

Existe um frase que diz que os olhos são o espelho da alma. E eu queria saber como ela está. Pra mim, parece que ela está mergulhada nesse mundo de sombras que eu construí para me esconder.

Esses olhos são de uma criança que não fazia ideia do que ela se tornaria onze anos depois. Ela tem um tratamento de quimioterapia na sua história, mas não parece dar muita importância para isso. Pura. Inocente. Feliz com o que tinha. Sem resquícios da doença em seu rosto que a lembrasse todos os dias como ela era diferente de todo mundo. Esses olhos nunca sonhariam que cinco anos depois estariam em uma sala na frente de uma médica que lhe contaria que o seu inferno tinha recomeçado.


Essa menina tem doze anos e faz quimioterapia. Nem parecem os mesmos olhos, nem parece a mesma menina. Ela se sente envergonhada se sair de casa sem um lenço ou sem um boné que esconda que ela é carequinha. Ela se sente humilhada toda vez que alguém olha torto pra ela, ou fica encarando por muito tempo. Ela começa a perder sua alegria plena e sincera. Ela entra em um mundo onde é forte e não sente dor, para que não desmoronasse de vez, para encarar tudo como se fosse uma princesa guerreira. Ela só não sabia que não conseguiria sair desse mundo tão cedo. 


E finalmente, a menina é maior de idade. Todos os dias ela faz um discurso pra si mesma, dizendo que não se importa com o que os outros pensem da sua aparência, que não se importa que muitas pessoas não gostem dela não só por isso. Essa menina é a Juliana que eu queria que todo mundo conhecesse, que tem medos, pesadelos, feridas profundas e dificuldades como qualquer outra pessoa. O grande problema é o muro que eu criei para me proteger e que agora não consigo derruba-lo. Não consigo trazer de voltar a Juliana sem câncer, sem insegurança, sem desconfiança. 

Eu queria mais que tudo conversar com alguém sobre isso. Eu queria saber abrir o meu coração, me entregar de verdade. Queria sentir, plenamente, tudo que que há de bom para sentir. Me arrepender, chorar por motivos normais. Tudo o que eu faço hoje é chorar por olhar no espelho e ver o resto da pessoa que eu poderia ser sem o câncer. 

Me faz tanta falta confiar em alguém para chorar em sua frente, mas a minha "auto-proteção" não me permite. Eu já estive a ponto de falar sobre tudo isso com uma pessoa, uma vez. Mas algo dentro de mim me diz que eu não tenho esse direito, que eu não devo incomodar ninguém com isso, como se alguém se interessasse pelo que acontece comigo.

E eu não sei expressar os meus sentimentos, o que todo mundo já deve ter percebido. Quer dizer, uma vez eu achei que eu estava gostando de um menino, então eu falei pra ele. Não deu em nada e a gente continua amigos. E como eu me precipitei e vi que o que eu sentia por ele era apenas amizade, eu não considero muito esse episódio. O que eu quero dizer é, por exemplo; eu não consigo fazer com que uma pessoa que é muito importante para mim perceba que eu estou chateada com ela. E eu vou guardar isso, alimentando as minhas fraquezas e fortificando o meu escudo contra sentimentos humanos até que isso me enlouqueça. E aqui estou eu, "abrindo meu coração" pela primeira vez na vida para os meus ornitorrincos. 

Eu resolvi escrever esse post porque eu não conheço vocês pessoalmente, o que facilita muito para mim. Foi essa testa inchada que me fez e continua me fazendo sentir pior do que nunca e como eu disse, eu não consigo olhar nos olhos de alguém e desabafar. Alguns amigos meus liam as poiices que eu posto aqui, mas como faz muito tempo que eu não atualizo e eu não vou divulgar em nenhuma rede social, eu me sinto muito mais segura em estar escrevendo sobre isso agora. Sem contar que a pessoa com quem eu teria algo próximo de coragem para conversar sobre isso nunca vai ler esse post mesmo.

Bom, ornitorrincos, eu acho que é isso. Eu só queria finalmente desabafar e sentir um pouco de auto piedade. Me desculpe se alguém leu isso até aqui, estou voltando para minha fortaleza agora. E prometo mandar notícias sobre a Unicamp e parar as lamentações. Obrigada por vocês serem meus ornitorrincos, eu sinto muito por andar tão ausente.

Um beijo no coração!

8 comentários:

  1. Ju, você me conhece pessoalmente e eu sei o que fala. Talvez não com tanta profundidade, mas sei. O que eu vejo em você é uma pessoa iluminada,com uma voz celestial e que venceu. Eu sou borboleta, você também é. Vencemos a morte de maneiras diferentes. Pessoas que sói se ligam no que veem por fora não merecem suas lágrimas. Eu sei oque vejo em você. Enfrentei uma sociedade que parava de falar quando eu chegava, senhoras puxaram meus cabelos querendo ver como era a minha peruca (e eu não usei peruca, era meu cabelo mesmo), ex alunos pediram emprestada a minha peruca para o carnaval (e eu achei que eram as do Ed do carnaval e mandei pedir pra ele, eles falaram, não queremos a sua que é mais real). Pessoas freavam o carro bruscamente e me apontavam...
    Sabe o que eu acho disso? Pobreza! Pobreza de espírito e de caráter. Você está fragilizada, sofrendo a dor da extensão da pele, mas pense que tudo vai passar e você vai ter o rosto novamente SEM O CÂNCER. Nós viemos aqui neste planeta para passar por experiências e vencê-las. Um ano sem festas, Reciclafé, não vai fazer falta depois, na soma de tudo. Acredite em mim. Chore e desabafe (pode ser comigo , se confiar e se quiser), não deixe a mágoa minar a sua alma, este câncer sim não tem cura.
    Sabe por que eu sou tão feliz??? (Mesmo que tenha problemas imensos, como todo mundo?) Mesmo com meu rosto deformado lateralmente (não quis fazer plástica, no meu caso o cabelo esconde)? Eu sou Muito alta, magra, poderosa, linda, tenho olhos da cor que eu escolher no dia e sou absoluta! Você que me conhece sabe que não é isso o que vê. Mas é isso que eu falo, é isso que eu atraio para mim, coisas boas porque eu tenho que gostar de mim primeiro, os outros não importa tanto. Mágoas viriam sem cirurgias ou não. Pode acreditar. Antes de tudo eu fui muito mais magoada que sou hoje. Você É linda, vai ficar mais ainda depois da cirurgia e a gente vai rir muito disso tudo. Um beijo, do fundo do meu coração e me mantenha informada sobre o andamento das coisas.
    EU GOSTO MUITO DE VOCÊ, PELO QUE É E PELA SUA LUTA !

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    1. Está vendo esta foto minha? Foi feita em 2011, 10 anos depois da cirurgia cerebral. Não fiquei bonintinha? Mas se olhar bem do lado, há uma depressão imensa, diferente do outro. Uso o princípio da invisibilidade ninja, se me incomada , eu esqueço.

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    2. Ahh Claudinha, muito, mas muito obrigada mesmo por fazer parte da minha vida... Eu te admiro muuito, muito mesmo! Você é maravilinda, sabia né? E tudo que você é e faz só confirmam isso. Eu fiquei muito feliz de você ter comentado essas coisas para mim, obrigada de novo. Eu concordo com tudo que você falou, mas você, assim como eu, entende que as vezes é difícil deixar certas coisas passaram sem se abalar, não é? E são nessas horas que o apoio vem de pessoas lindas, altas e esbeltas como você, Claudinha! Eu já te disse que foi maravilhoso poder ter convivido um pouquinho mais com você, uma honra para mim. Você é uma batalhadora, uma vencedora! Uma grande inspiração e não só pra mim. De novo, muito obrigada pelas suas palavras, nem todos os "obrigada" que eu disser vão expressar de verdade o que eu senti ao ler. E você é linda linda inda lindaaaaaa Claudinha! Hoje, 10 anos atrás, daqui a 10 anos... Nunca vai fazer diferença o modo que as pessoas que realmente importam te vêem. Obrigada do fundo do coração! ♥

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  2. Nao te conheço pessoalmente, mas tenho uma profunda admiraçao por tdo q vc é, vc é uma guerreira, parabens pela força e coragem, e q Deus te abençoe e te dê mta saúde. Abraço. Dri

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    1. Muito obrigada pelas suas palavras! De verdade *-* Nossa vida :D Tudo em dobro pra vc (: Beeijo!!

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    2. Obrigado flor..tdo de maravilhoso p vc. Bjos!!! :-)

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  3. É na hora que eu conheço uma história impactante e linda dessa que eu me sinto extremamente pequena e egoista! Meu Deus, eu vivo querendo que afirmem que eu sou linda, perguntando se estou gorda, chorando por roupa, e ficando triste por simples olheiras. Todo mundo elogia meu exterior, mas eu estou vendo que por dentro eu sou uma bosta :(
    Vc sim é linda! Por dentro e por fora! não tem como achar o contrario.
    Cara, eu chorei lendo sua historia, futiquei todo seu arquivo.QUE FORÇA!QUE CORAGEM! Eu tô abismada com tudo que vc passou desde tão novinha.
    Eu sei que amanhã eu ainda vou acordar me olhar no espelho e lamentar uma celulitezinha, um cabelo frizado... Mas eu peço a Deus que nessa hora eu me lembre do quão isso é pequeno, e o quão pessoas incriveis como vc estão aqui no mundo pra provar a lixos como eu, que a vida vale muuuuuuito mais do que a gente pensa. MUITO OBRIGADA POR COMPARTILHAR SUA HISTORIA!eu tenho muito a aprender com vc, ja te admiro demais, e espero do fundo do meu coraçao (mesmo) que você consiga TUDO que deseja, pq vc é forte e é maravilhosamente linda em todos os angulos, vertices e arestas.
    :) Duda

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    1. Primeira coisa: Nunca, NUNCA se diminua dessa maneira! Você não é uma bosta e nem um lixo. Talvez ainda não tenha parado para pensar nas suas prioridades e dado o devido valor ao que realmente importa, mas isso se ajeita com o tempo. Muito obrigada por deixar esse comentário, são ornitorrincos como você que me fazem querer a continuar a escrever. Minha história eu não posso mudar, só posso aprender, assim como você. Muito obrigada, Duda, de coração. Linda é você! *-*

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