domingo, 11 de agosto de 2013

O que vem de lá, como vai saber?

Eu achava que não gostava de feijão. De gente falsa. De dia muito quente. Mas o que eu não gosto mesmo é de dizer tchau pra quem eu amo - tanto pra quem quanto pras coisas que eu amo. Eu achava que era mais fria quando se tratava em ter saudade, tanto é que essa frase já saiu da minha boca: "Eu não sinto saudades". O que mais me espanta é que meu nariz - mesmo sendo todo remendado - não cresceu nem um pouquinho.

Eu acho que essa deve ter sido a maior estupidez que eu já disse na vida, e olha que quem me conhece sabe que esse seria um feito e tanto. Mês passado eu apareci com essa: "Nossa parece que eu tô parindo a pipoca" E eu existo mesmo. Mas deveria ter castigo pra quem fala tanta besteira.

Eu sempre gostei de ter meus amigos dentro da minha casa e nunca gostei de um se levantar e dizer: "vamos". Ir embora é triste. E eu sempre respondi com o clássico "fica mais um pouco, ainda é cedo", não por educação, mas por querer dizer aquilo mesmo. E essa noite foi diferente. Eles vieram aqui e foram embora, só que meu "fica" foi choroso, foi suplicante. Foi um "não saiam da minha vida, não me deixem, nunca. Eu amo vocês, não esqueçam não" Bati o portão e comecei a chorar e foi aí que eu percebi que o maior medo da minha vida não é o que eu pensava. Eu tenho medo é de ficar sozinha, de ser sozinha.

Faz muito tempo que eu não atualizo o blog, ornitorrincos. Muita coisa mudou nesse intervalo de quatro meses. Eu comecei a tirar a minha carta de motorista, fiz mais duas cirurgias no meu nariz, comecei a escrever uma página de cultura no jornal da minha cidade, consegui fazer uma bolo sozinha - que pode ser considerado o meu maior feito desse ano. E comecei a estudar em Campinas.

O   Q U E ?

Como assim eu na cidade grande, como assim eu me virando sozinha?
Aconteceu.
Quer dizer, em termos.

Essa primeira semana minha mãe ficou lá comigo, então eu não me virei, na verdade, e muito menos fiquei sozinha. Mas segunda-feira meu pai vai me levar pra lá e vai vir embora e daí eu não quero nem ver o que vai acontecer.

Eu vou estar sozinha. Sem chegar em casa já dizendo "mãe, você não faz ideia do que aconteceu hoje na escola" ou "Julia você fuçou no meu celular?" ou "pai você tem que ficar me rodeando toda hora mesmo?"

Só que ao mesmo tempo que eu estou pensando em como semana que vem vai ser difícil pra mim, eu estou aqui em casa hoje pensando no meu apartamentinho. De como eu gosto da minha mesinha, da minha caminha, do meu banheirinho. Da minha grande vista de 15º andar. É muito ambíguo isso. Eu ansiei demais e não estou nem um pouquinho arrependida. Mas meu coração está tão apertado... De saudade, de angústia, de medo.
Lá fora tudo brilha. Aqui dentro, tudo anseia.

E ao mesmo tempo que tenho sentimentos inexplorados em Jacutinga, tenho um tantão de coisas para descobrir e aprender. Isso me encanta, mas me assusta. E o que mais me aterroriza é ideia de solidão. Nem tanto por não estar fisicamente com alguém, mas saber que existe alguém pensando em você. Não falo em um sentido romântico, mas sim no meu temor de que meus amigos venham a se esquecer de mim.

Acho que foi por isso que fiquei tão nervosa quando eles foram embora hoje. Quer dizer, pra falar bem a verdade, eu não sei o que me deu. Só sei que não gostei nem um pouco de me sentir tão vulnerável assim. Mas apesar dessa angústia, me senti amada, me sinto amada. Eu sei que eles vão estar me apoiando :)

Bom, falei, falei e não expliquei nada. O ano passado a Unicamp  pode até ter tentando roubar o meu sonho de mim, mas eu não desisti dela não. Estudar na Unicamp não é o maior sonho da minha vida, mas é um daqueles que te faz desejar com todas as forças e lutar para conseguir dar o seu melhor. Então eu resolvi fazer um cursinho semi extensivo para me preparar para ela, e olha que conseguir fazer esse cursinho já foi difícil.

Eu tive a ideia um bom tempo atrás, conversei com a minha mãe e ela disse que ainda esse ano eu não ia sair de casa. Então eu continuei a viver um vazio tão grande, que havia dado seu ar da graça lá pelos meados de 2012, mas que tinha se intensificado no final do ano. Eu não estava feliz. No auge de umas das crises de angústia que vinham e iam, eu me confessei com o pároco da minha cidade, o padre Jésus. Chorei para ele o meu desânimo e ele me clareou a cabeça. Fui pra casa focada em convencer meus pais a me deixarem ir estudar e acabei conseguindo. E eles foram mais compreensivos e deram mais apoio do que eu imaginava.

Estou ansiosa, ornitorrincos. Ainda não tenho internet lá em Campinas para conversar com os meus amigos e estou meio tímida no cursinho. Logo eu, que gosto tanto de falar, vou ser obrigada a ficar quieta. Se eu não pirar essa semana, acho que mereço um prêmio!

Já é de madrugada e eu vou ter que acordar cedo, ornitorrincos. Mas eu não podia ir dormir sem escrever para vocês, não hoje. E eu ainda tenho tanta coisa pra contar! Quando eu tiver internet lá, prometo me organizar para poder escrever sem prejudicar meu tempo estudando. Não posso mais ficar tanto tempo sem escrever, ornitorrincos, é aconchegante demais! *-*

Beijinhos!