domingo, 22 de março de 2015

A dor da saudade...

Qual seria o jeito certo de se inciar uma conversa quando as pessoas envolvidas estão, no caso, a beira de cinco meses sem se falar? O motivo não é briga, falta de tempo, nem mágoa. E quando o motivo do afastamento é tão inexplicável que te sufoca tentar achar razões para estar distante daquilo que sempre te fez bem? A falta de assunto já não age como desculpa. E eu sei muito bem - inclusive sou defensora ferrenha de que, se você sente saudade de algo ou alguém; se essa saudade é sincera e chega a te causar uma dor tão intensa que parece ser uma dor física, de algum jeito essa saudade pode ser aniquilada. Não importa como. Não existem desculpas.

E é com esse "não pedido" de desculpas que eu dou início a esse post, sem saber explicar a minha ausência. Muitas coisas aconteceram, nossa, e como. Mas eu não tive vontade de escrever. Eu tive tempo, minhas férias foram eternas. Tive assuntos para discutir, tópicos nos quais eu pensei aleatoriamente depois de acontecimentos simples (e outros não tão simples assim). Mas tive um bloqueio. Não sei se foi um problema criativo ou simplesmente desânimo. Não sei, não sei.

E talvez seja esse o maior problema.

No decorrer da minha escrita, vou repassar os meus primeiros quatro meses e três semanas na casa dos vinte anos. Vou tentar descobrir, enquanto escrevo, o que causou esse desânimo. Uma diminuição do meu talento, talvez? Um amadurecimento que não me fez ter mais vontade de falar sobre a minha vida? Um acontecimento dramático? Não acredito em nenhuma das hipóteses. Continuem a ler, se preferirem.
Vou seguir uma ordem cronológica (talvez mais pra frente eu mude isso haha). Continuando o mês de novembro, eu vivi um grande desafio, como atriz, como pessoa, como mulher. A minha companhia teatral em Itajubá se apresentou com uma cena musical da peça "Chicago", a cena do "Tango do presídio". Como eu já tinha uma certa experiência, estava tranquila. Mas nem tanto.

Meu desafio como atriz se resumiu na necessidade de interpretar uma mulher desvairada, uma assassina fria e sem remorso. Um olhar (e expressão) livre de culpa, uma manipuladora nata. Como pessoa, tive que lidar com a paciência que eu ainda preciso desenvolver melhor, ao manter a calma entre pessoas com as emoções oscilando; além é claro, desenvolver minha "habilidade" de dançar. Como mulher, meu maior e mais intenso desafio, a capacidade de me impor com a garra inata de uma mulher que sabe o quer, que não teme um palco, não teme olhos curiosos e, principalmente, não teme a si mesma. Mas isso é coisa de palco, vocês entenderão mais tarde.

Em dezembro vivi algo que não esquecerei tão cedo. Algo que eu não estava exatamente preparada para vivenciar. Quando eu redescobri o câncer, em 2006, eu tinha acabado de visitar Aparecida do Norte no ano anterior. Terminei a quimioterapia em 2007, comecei as cirurgias plásticas de reconstrução do meu nariz em 2010 (ainda sem término definido) e nunca mais visitei a basílica. Mas quando fui visitar minha amiga que mora em Guaratinguetá em dezembro, ela nos levou até Aparecida do Norte. E foi então que a minha ficha caiu. Foi só quando entrei lá, quando fiquei frente a frente com a santinha, que percebi a grandeza daquele momento. Era a primeira vez que eu a visitava desde a minha doença. Eu comecei agradecendo pelo meu belíssimo 2014, e em um retrocesso, reparei que nunca, NUNCA, havia feito o mesmo, diante de Nossa Senhora, por aquela vitória, que é, provavelmente, a maior da minha vida.

Dezembro ainda me reservou outra surpresinha, mas não falaremos disso hahahahahahahahahaha

Chegamos a janeiro e o esperado 2015. Para mim, que não desisto nunca, outra vez iniciei o ano com os meus pensamentos positivos sobre conhecer o meu novo nariz, de verdade. Sem mais enrolações. Na virada do ano, pedi a Deus as coisas que mais queria que se realizassem nesse ano e ouvi uma música especial. Vi muitas pessoas queridas nos primeiros minutos do ano e sou grata por isso. Não tenho do que reclamar. Não publicamente, pelo menos.

Então eu operei.

Sabe quando você viaja e no foninho começam a tocar músicas tristes, seu pensamento voa e você olha para fora como se estivesse num clipe brega dos anos 2000? Agora imaginem que eu vivi dentro de um clipe de música triste, que rodava toda noite na hora do banho. A trilha de fundo, na minha cabeça era essa, só para vocês sentirem o drama.

Ah sim, o nível do drama era nível Maysa.

Agora imaginem outra cena.

Final de uma novela mexicana. A vilã se acidentou ou de alguma maneira levou uma jorrada de ácido na cara (não sei porque essa mania de jogar ácido nos rostos alheios. Enfim). Mesmo o médico orientando que ela fique com os curativos no rosto, ela retira tudo sem dó nem piedade. Ela é uma vilã, afinal de contas. O que ela vê é tão assustador, tão inimaginável, que ela grita e amaldiçoa tudo e a todos.

Isso foi bem longe do que aconteceu comigo, mas confesso que a cena passou pela minha cabeça. Não enquanto eu tirava o curativo, porque na realidade eu estava esperando por uma coisa boa, leia-se: meu novo nariz, pronto ou no mínimo bem encaminhado. Eu só não estava preparada para encarar o que estava de verdade debaixo de todo aquele curativo. Se aquilo fosse o meu verdadeiro nariz, eu ia pedir devolução.

Não tenho como descrever sem reviver a angústia que não quero reviver. Apenas saibam que estou em um processo de cirurgias e quando elas finalmente acabarem, o nariz (e apenas o nariz) estará pronto. E eu sinceramente acredito que o dia em que eu retirar os curativos e finalmente ver um nariz como ele deveria ser, esse será o primeiro dia de uma nova fase na minha vida. Todo o significado que eu acreditei que encontraria aos 18 anos. Mas eu sinceramente quero fazer uma postagem especial sobre isso.

E FAREI!

No mais, tenho me divertido pra valer. Quando as neuras do curativo eterno passaram, eu pude ser feliz. Quando finalmente aceitei que teria que passar por isso para mudar de verdade, foi como se eu nem visse mais os olhares curiosos. Deixe que pensem que eu sou uma vilã de novela mexicana que levou ácido na cara ou se espatifou de uma escada caracol de 15 metros de altura. Enquanto eu puder cantar e dar risada de tombos alheios, eu estou ganhando.

Eu quis ilustrar com uma foto da minha Belinha. Me julguem.

Enfim, nós temos cinco anos de existência, cinco anos de uma obsessão por ornitorrincos que vai além do que a medicina e/ou a psicologia pode explicar e cinco anos de muito crescimento, tanto pessoal, de escrita, de tamanho, de gordura... Agradeço imensamente a mim, por ter começado esse blog a longínquos cinco atrás, mas principalmente a vocês, meus ornitorrincos mais que maravilhosos. Amo de paixão poder "falar" e ser "ouvida" por vocês.

Que vocês possam sempre continuar aqui (e eu também! hhahahahahaha)

E feliz 2015! HASUHAUHSUAHSUAUSHUA

Beijinhos de afeto, amor e carinho.

PS: Acabou que não descobri porque fiquei sem escrever. Alguma conclusão?

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